Nome literário de Paulo Cesar Ferreira Viana
É professor alfabetizador, nascido na cidade de Pedra Azul - MG. Graduado em pedagogia pela universidade Anhembi Morumbi - SP, pós-graduado em Literatura e Produção Textual pela Universidade Batista - MG. Publicou seus primeiros contos na coletânea Pontos da Vida em 2013. Em 2015 publica o seu primeiro romance, Misérias Anônimas, em que retrata o fictício morro de Santa Virginia como um organismo vivo e pulsante; um lugar onde o crime se tornou uma abstrata noção de trabalho, onde vítimas e algozes exorcizam suas misérias anônimas à margem de uma sociedade apática e excludente. Em Soberba, troca-se o cenário miserável dos morros e favelas pela deslumbrante paisagem rural no interior do sertão mineiro. Mas seus personagens, ainda miseráveis, continuam a ser explorados por uma sociedade capitalista, pretensamente democrática.
Após nos guiar pelas vielas e becos de uma comunidade miserável dominada por traficantes, no sensível Misérias anônimas, e esmiuçar a maldade humana e a loucura, no contundente Soberba, Paulo Viana nos traz agora dez histórias curtas e impactantes. Diferentes temas permeiam os dez contos deste livro. O que os unifica são as referências a uma sociedade em que os membros têm em comum a prática de atos de corrupção, maldade, descaso e falta de amor. A maldade inerente à espécie humana é vista na dona de escravos no conto “No Cais do Valongo”, no bando de gaviões que sequestram outras aves e as fazem escravas no emblemático “Os pintassilgos e a senhora Woolf”, nos torturadores da ditadura militar em “Pretinha” e na sociedade apática e violenta que abandona as pessoas à própria sorte no doloroso “(in)diferença”. “Após a utilidade..." e “(im)paciência” tratam da velhice e da solidão, do descaso da sociedade e da família para com os idosos. Ambos os contos se fecham na constatação de que “deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só” (Platão). Um tema que ecoa em nossa mente durante muito tempo após a leitura, deixando-nos com um gosto amargo na boca.
No divertido “Carolina”, somos apresentados a uma solteirona devota, virgem e reprimida, que decide dar asas a sua imaginação devassa. Nem mesmo o vendedor cego escapa de seus desvarios, quando ela resolve personificar Chapeuzinho Vermelho em meio a uma floresta de tecidos. Os personagens Maria Cristina, Josephine e Clarisse parecem humanos à primeira vista, com seus dilemas e tragédias. Mas são uma vaca, uma anta e uma mosca respectivamente. Maria Cristina é a personificação de uma diva da era de ouro hollywoodiana: enganada, traída e vilipendiada, ela jamais perde a classe. Josephine parece ter saído de um melodrama classe B, e sua trajetória vai de escrava a traficante, com reviravoltas dignas de uma montanha-russa. A trajetória da mosquinha Clarisse é uma crítica ácida ao consumo desenfreado e à vida louca como se não houvesse amanhã.
Entrevista
Olá Paulo. É um prazer contar com a sua participação na Revista do Livro da Scortecci
Do que trata o seu Livro?Diferentes temas permeiam os dez contos desse meu livro. O que os unificam são as referências a uma sociedade em que os membros têm em comum a prática de atos de corrupção, maldade, descaso e falta de amor. São contos com temas urgentes para serem debatidos em nossa sociedade.Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?Sou Professor em uma comunidade rural onde os jovens não têm muitas perspectivas. São jovens que, se alguém não mostrar um rumo, eles acabarão perdidos. E ajudar essa juventude é um dos propósitos que move o professor. Então eu resolvi escrever esse livro com temas voltados para a realidade desses jovens para serem trabalhados em sala de aula.Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?Meu primeiro livro foi escrito na época em que eu cursava a faculdade de Pedagogia. Em conjunto com outros alunos, publicamos um livro de contos intitulado "Pontos da vida". Em 2015 eu realizei o grande sonho de publicar meu primeiro romance "misérias anônimas". Desde então eu publiquei em 2023 o romance "Soberba" e agora estou publicando meu livro de contos "(in)diferença".O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?Ser escritor em um país onde as bibliotecas estão sucateadas e onde a leitura não é valorizada, é um trabalho de muito suor e amor. Se o autor não amar verdadeiramente o ofício de escrever ele não publica. Não há incentivos por parte do poder público; quando há, são muitos poucos os agraciados. É preciso amar o ofício da escrita para poder ser escritor no Brasil.Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?Já público com a Scortecci desde meu primeiro livro de contos. Apenas "misérias anônimas" não foi publicado por eles.O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?Não só o meu livro merece ser lido, todos os livros merecem serem lidos. Quando um escritor escreve uma obra, ele escreve pensando quais reações seus personagens provocarão no leitor. Sem o leitor não há livros. Quando o leitor ler um livro e ele fica ecoando em sua mente, o escritor atingiu o seu objetivo que é o de encantar com a leitura. Meu livro pode ser lido por crianças, jovens e adultos. Minhas histórias curtas foram escritas para encantarem e fazerem pensar. Se um jovem ler a minha obra e um de meus contos fazer ele parar para pensar na violência, no preconceito ou na falta de altruísmo que domina o mundo, meu objetivo certamente foi atingido.
Obrigado pela sua participação.
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