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20 agosto, 2023

Marcos Quinan / Marco Antonio Quinan - Autores de: SÃO JOSÉ DILIGENTE

Um artista multimídia, timidez revelada em seu semblante sempre sereno, Marcos Quinan é um inquieto apaixonado pela arte brasileira. Autodidata, se define como um aprendiz que tem a necessidade de conhecer o Brasil em todas as suas expressões culturais e mostrá-las aonde puder.
Nascido em Ipameri-GO, não esconde o orgulho de ter escolhido a Amazônia como o chão propício para expandir sua inspiração que o faz aplaudido produtor, compositor, teatrólogo, artista plástico, fotógrafo, agitador cultural e escritor.
Teve, ainda, uma passagem pelo teatro, no despertar de sua vocação artística ainda jovem, lá mesmo em Goiânia onde fez parte da Agremiação Goiana de Teatro, participando ativamente da conclusão final do Teatro Inacabado, na época o único teatro construído por um grupo amador no Brasil. Foi ator, iluminador, diretor e dramaturgo, fundando, com Paulo Roberto Vasconcelos nos anos 70, a “Companhia de Teatro do Autor Brasileiro”. Com Roseli Naves e Nilson Chaves, nos anos 80 a “Gravadora e Editora Outros Brasis”. Junto com Nilson Chaves, Walbert Monteiro, Conceição Elarrat e Fátima Silva em 2002 criaram a “ACAM – Associação Cultural da Amazônia” e foi um dos coordenadores do primeiro Seminário Cultural da Amazônia realizado por ela no ano seguinte. Foi Secretário Executivo do Programa de Incentivo à Cultura do Estado do Pará - SEMEAR e Assessor da Presidência da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Em 2019 coordenou junto com Deborah Miranda, Fatinha Silva, Elizabeth Orofino, Andréa Cozzi e Delson Luís a I FLIB - Feira Literária Infantojuvenil de Belém.
Em 2006 junto com o filho Marcelo Quinan criou a Lado de Dentro (http://ladodedentrobrasil.blogspot.com/), loja virtual dedicada à divulgação e comercialização da produção cultural brasileira, incluindo nossa cultura científica.
Marcos Quinan também assinou a coluna “O Que Vem do Norte” no site – www.festivaisdobrasil.com.br. É colaborador do jornal Só Cultura de Jaguarão-RS e hoje publica diariamente no blog ABARIBÓ http://abaribo.blogspot.com/ seu trabalho fotográfico depois de durante muitos anos apresentar material de artistas novos e obras consagradas da arte e cultura brasileira. Participa, como jurado de festivais de música e interage com grupos de artistas em oficinas e palestras sobre os mais variados assuntos da cultura brasileira, da produção e dos aspectos práticos que a envolvem (Luiz Gonzaga, Canudos, Cabanagem, Direito Autoral, Leis de Incentivo Cultural).
Contudo, esse “sertanista da vida, das ideias, dos sonhos” conforme o define o jornalista Edyr Augusto Proença, só resolveu mostrar-se ao público ao atingir seu meio século de vida. Antes disso, associava sua atividade empresarial a eventos artísticos como agitador, produtor e divulgador, mas sem expor sua própria criação que hoje esta indelevelmente registrada em livros, pinturas, esculturas, fotografias, músicas e letras editadas em cd’s, uma bela produção da nossa brasilidade.

Marco Antônio Quinan é compositor.

Brigue Palhaço
Teatro, música e poesia; leitura/encenação que revela os acontecimentos da Tragédia do Brigue Palhaço, assim como é conhecido o episódio ocorrido no Grão Pará na época de nossa independência. Também considerado um dos antecedentes motivadores da Cabanagem. A apresentação do nome das vítimas só foi possível pela descoberta casual da pesquisadora Célia Gomes de Azevedo em uma caixa no Arquivo Público Nacional do Rio de Janeiro contendo o “Translado de Devassa dos mortos do Sam Jose Diligente, Fundo do Supremo Tribunal, códice BU181 com os nomes dos mortos no Brigue Sam Jose Diligente, Pará, Brasil, 1823”. Entendendo sua importância, representado está o episódio usando o que é contundente em contraponto com as omissões da nossa história, dando ao leitor/espectador ciência desse descaso e, assim, nossas exéquias tardias, mas necessárias. 

Entrevista

Olá Marcos. É um prazer contar, novamente, com a sua participação na Revista do Livro da Scortecci

Do que trata o seu Livro?
Teatro e música. Encenação do episódio mais conhecido como “Brigue Palhaço” que se passou na Província do Grão Pará durante o período da nossa independência quando, em regozijo pela adesão oficial, manifestantes foram para as ruas comemorar. O vandalismo, principalmente com os portugueses, resultou na prisão de 252 deles ordenada pelo mercenário inglês John Pascoe Grenfell no porão do navio São José Diligente em condições desumanas resultando na morte de todos com exceção de um sobrevivente que resistiu poucos meses.

Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Quando estava pesquisando sobre a Cabanagem para ambientar um dos contos do livro Sertão do Reino deparei com o pouco que havia sobre o episódio do Brigue Palhaço. Em todas as narrativas sobre a revolta cabana o fato é citado com relevância como também um dos antecedentes motivadores. As narrativas existentes o descrevem ora com poucas divergências ora com detalhes sombreando os acontecimentos. Por muito tempo tentei entender tudo isso. Virou quase obsessão. Não conseguia compreender a falta de consequências legais para os fatos. O número dos mortos, para a população da época, não levaria a uma investigação rigorosa, a um processo? Submissão de familiares, políticos e religiosos, seria? Quem eram eles? Era um tempo sem leis? Um silêncio difícil de entender como tantos outros da nossa história.
Com meu parceiro Marco Antonio Quinan surgiu a ideia de uma representação musical e visual sobre o episódio que não poderia ser esquecido e nem pouco lembrado. De nossa parceria nasceram as músicas gravadas no álbum São José Diligente, mas para a representação cênica que imaginamos fazer, sem os nomes dos mortos, estava fora de questão. Sem eles a apresentação perderiam a força da reflexão. A Tragédia do Brigue Palhaço estava impregnada nas melodias e no pensamento. Entretanto, quando estávamos terminando as gravações foi encontrado por acaso pela pesquisadora Célia Gomes de Azevedo uma caixa no Arquivo Público Nacional do Rio de Janeiro contendo o “Translado de Devassa dos mortos do Sam Jose Diligente, Fundo do Supremo Tribunal, códice BU181 com os nomes dos mortos no Brigue Sam Jose Diligente, Pará, Brasil, 1823”. Assim pudemos homenagear seus descendentes e a memória de todos eles, constando no encarte do trabalho e na encenação seus nomes, tal qual está no documento.
O destino do Brigue San Jose Diligente, supostamente reformado e com outro nome, naufragou no Mar do Caribe. No entanto não conseguimos, na época, desvendar as consequências legais da tragédia, tão pouco onde era o que nominavam Penacova, local da vala comum onde foram enterrados. Outras confirmações só foram encontradas no decorrer dos anos: - O mercenário inglês John Pascoe Grenfell submetido ao Conselho de Guerra quando voltou ao Rio de Janeiro, foi absolvido em 1826 e promovido por bons serviços prestados a Coroa, tornando-se referência na nossa história naval por sua atuação no Rio da Prata. - Penacova, denominado assim por José de Nápoles Tello de Menezes, governador da província no século dezoito, na tentativa de reunir ali índios e mamelucos.
Era uma antiga aldeia dos índios denominados Una. Hoje dá nome a um bairro e a um igarapé na divisa dos municípios de Belém e Ananindeua.
Entendendo sua importância, representamos o episódio usando o que é contundente em contraponto com as omissões da nossa história, dando ao leitor/ouvinte/espectador ciência desse descaso; e assim, nossas exéquias tardias, mas necessárias.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Fui bancário em Goiânia/GO: Banco da Bahia e Banco Auxiliar de São Paulo. Voluntário na obra social e educacional Pequena Casa da Criança em Porto Alegre/RS. Industrial em Goiânia/GO: Gimpel - Fabricas de Papel Ltda. Representante Comercial de diversas empresas goianas, além da Copalimpa desde a sua fundação e da Arisco Produtos Alimentícios durante toda sua existência onde também ocupei o cargo de Diretor de Vendas na fusão das indústrias Beira Alta e Colombo (RJ) adquiridas por ela.
Nasci em Ipameri-GO, vivo na Amazônia onde sou reconhecido produtor, compositor, teatrólogo, artista plástico, fotógrafo, agitador cultural e escritor. Tive ainda uma passagem pelo teatro, no despertar de minha vocação artística ainda jovem em Goiânia onde fiz parte da Agremiação Goiana de Teatro, participando ativamente na administração do Teatro Inacabado, na época o único teatro construído por um grupo amador no Brasil, onde também fui ator e iluminador. Fundei, com Paulo Roberto Vasconcelos nos anos 70, a “Companhia de Teatro do Autor Brasileiro”. Com Roseli Naves e Nilson Chaves, nos anos 80 a “Gravadora e Editora Outros Brasis”. Junto com Nilson Chaves, Walbert Monteiro, Conceição Elarrat e Fátima Silva em 2002 criamos a “ACAM – Associação Cultural da Amazônia” e fui um dos coordenadores do primeiro Seminário Cultural da Amazônia realizado por ela no ano seguinte. Fui Secretário Executivo do Programa de Incentivo à Cultura do Estado do Pará - SEMEAR e Assessor da Presidência da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. Chefiei a delegação da Amazônia no Fórum Mundial de Cultura realizado em SP. Participei desde as primeiras iniciativas junto com a Fundação Joaquim Nabuco de Recife na formulação das demandas apresentadas. Participei do Festcine Amazônia na comemoração de sua décima edição em Porto Velho como palestrante.
Também como palestrante no Curso de Extensão e Aperfeiçoamento em Gestão Cultural promovido pelo MINC/UFPA. Estive presente como membro convidado da comissão na última edição do Acorde Brasileiro em Porto Alegre e na mesa promovida pela Funarte no Fórum Social em Belém. Em 2006 junto com meu filho Marcelo Quinan criamos a Lado de Dentro, loja virtual dedicada à divulgação e comercialização da produção cultural brasileira, incluindo nossa cultura científica. Também assinei durante alguns anos a coluna “O Que Vem do Norte” no site Festivais do Brasil. Fui colaborador do jornal Só Cultura de Jaguarão-RS. Criei o blog ABARIBÓ onde publicava meu trabalho fotográfico depois de, durante longo tempo, apresentar material de artistas novos e obras consagradas da arte e cultura brasileira. Participei, como jurado de vários festivais de música e interagi com grupos de artistas em oficinas e palestras sobre os mais variados assuntos da cultura brasileira, desde a produção até os aspectos práticos que a envolvem. Em 2019 coordenei junto com Deborah Miranda, Fatinha Silva, Elizabeth Orofino, Andréa Cozzi e Delson Luís a I FLIB - Feira Literária Infanto-juvenil de Belém.
Com 50 anos comecei a escrever e publicar meus livros:
SERTÃO DO SÃO MARCOS - Livro de contos sobre a região em que nasci. Na opinião de Camilo Delduque, “É um livro sonoro. É o sertão brasileiro para ser lido em voz alta. Um homem plantado na própria alma, contando da alma de sua terra.”
SERTÃO D’ÁGUA – Romance bem brasileiro que conta a história de um Conselheirista desmemoriado que veio parar na Amazônia. Vicente Salles, comentando a obra, afirma:
Sertão obsessivo do escritor que antes nos deu o Sertão do São Marcos, 2000, das veredas goianas, remansos de rios, gemidos de carro de bois; agora neste Sertão d’água, 2001, ele narra uma aventura em prosa e em poesia, complemento de vasta produção. Na ficção, Marcos Quinan voltou-se para o sertão amazônico, do extrativismo, das lendas e das encantarias.”
ORAÇÃO DE FLORESTA E RIO E OUTROS POEMAS – Poesia - O paulista Celso Viáfora assim o define: “Leio comovido e me transponho ao coração da floresta, no barco da leitura, espertamente, escrita na primeira pessoa do verbo, que faz a gente ir virando margem, semente, rio; ir virando lenda. Outra sutileza de poeta: a capacidade de se pôr na briga pela floresta não com palavras de ordem mas pela consagração do belo. Tão vegetal, ele nos faz, que se acaba por sentir a dor da motosserra.”
O POVO DO BELO MONTE – Romance - No dizer do parceiro e interprete cearense Eudes Fraga; Uma reflexão sobre o episódio de Canudos, assunto recorrente em suas manifestações e objeto de permanente pesquisa na vida do autor. Nele está presente o desassossego e a brasilidade interagindo com a percepção de nossa história.
JEITO DE SENTIDOR - MEIZINHAS, ENVERSADOS E RECORRÊNCIAS... - Poesia - Cheio de simplicidade e brasilidade, Jeito de Sentidor nos leva a paixões em poemas plenos de sentimento e angústia.
SERTÃO DO REINO – Contos - apresenta contos ambientados à época da Cabanagem. É descrito por Vital Lima como “Uma reconstrução daqueles dias de luta visto pelo olhar lançado na gente comum, mas, e acima de tudo, um trabalho primoroso na arte das palavras, amorosamente entalhadas para encantar, emocionar, enfim, arrebatar o leitor.
UM LUGAR CHAMADO PRIMAVERA - História do município de Primavera localizado na Região Bragantina do Estado do Pará.
AMASTOR - Reunidos por enfermidades e circunstâncias, um grupo heterogêneo percebendo o descaso e a desorganização com que a Tríplice Aliança comandava as operações na Guerra do Paraguai, transforma-se em um dos hospitais de sangue da campanha, saqueando o que fosse possível antes de retornar, pelo interior, até a Província do Grão Pará origem de Amastor.
SUBIDOS - História de amor, sonhos e desencontros. De companheirismo e cumplicidades envolvendo anarquistas, militares rebeldes, nordestinos fugindo da seca e mestiçados da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Presos levados sem julgamento junto com marginais já apenados para o isolamento na colônia agrícola criada pelo Ministério da Agricultura no Estado do Pará então transformada na Colônia Penal de Clevelândia. Tempo da Primeira República, durante o período do governo de Artur Bernardes. História de Dalcino perdido na solidão final e Duviges perseverando em sua procura, um caminho de dores abrandado com a vingança e a percepção de estarem vivos, pai e filho, vivendo ao seu lado.
ENCENAÇÕES - Conjunto de contos instigantes encenados no ambiente do nosso cotidiano pessoal e coletivo.
VAQUEIRO MARAJOARA – ENCANTARIAS, CHULAS E LADAINHAS - Poemas sobre o vaqueiro marajoara e sua lida cotidiana. A rudeza dentro da harmonia que é sua vida e seu entorno. Seus quereres, fazeres, jeito de falar e a convivência social, o respeito com a natureza e a sabedoria de seus menores modos.
O NOME NA PEDRA – O compositor Glauco Luz assim recomenda a história do arquipélago de Fernando de Noronha. “A cronologia mais parece um romance de contos misturando tipos vivos do imaginário com personagens reais do nosso passado social, econômico e político, desde os primeiros fatos e conflitos nos tempos da Terra de Santa Cruz, envolvendo o naufrágio de um tumbeiro, invasões, tentativas de domínio, transformação em prisão de militares e civis, palco de privações, ganâncias, fugas, assassinatos, rebeldias; prostituição e corrupção que duraram até a Segunda Guerra Mundial. Personagens inusitadas e complexas da nossa formação buscando sobrevivência, conquistas pessoais ou sociais em convivência com políticos de nosso passado histórico.
De conto em conto, multiplicam-se os tipos que os retratam: o líder cabano; um farroupilha mameluco; o rebelde mestre capoeirista; o frei que contestava os decretos papais; a rebelde salteadora baiana descendente de franceses maranhenses e de africanos islâmicos; um ajudante de linotipista envolvido com a Revolução Praieira; os escravos que serviram na Guerra do Paraguai lutando por direitos assegurados; uma professora vivendo de lembranças. Gente dos mais diversos ofícios e atividades, desde os primeiros habitantes, retratados com beleza e estilo.”

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Não é fácil. Vivemos, não só com relação a leitura, mas com a cultura brasileira de um modo geral momentos, não novos, de verdadeiro desmonte. Riqueza que a cada dia fica mais distante de todos nós.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
PROJETO TROCANDO PALAVRAS - O projeto Trocando Palavras, criado em 2002, possibilitou em suas três versões, promover a doação às bibliotecas públicas de todos os estados que compõem a Amazônia Legal da minha obra literária, totalizando 6.292 livros doados. Parceria do Banco da Amazônia e da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves que compreenderam a importância do conteúdo da pesquisa contida nas obras, envolvendo em sua ficção a Cabanagem, revolta popular ocorrida na Amazônia no Século XIX, a história de Canudos, outro importante movimento social que teve como palco o sertão baiano e minha poesia. O projeto alcançou pleno sucesso. Os patrocinadores adquiriram os exemplares a preço de custo, a editora abriu mão do lucro e eu dos direitos autorais. Os beneficiários foram milhares de alunos da rede pública que puderam ter acesso a essas obras nas bibliotecas de suas escolas. Na época eu era contratado pela editora onde publiquei meus seis primeiros livros. Quando ela encerrou suas atividades o sétimo que faria parte do projeto não havia sido impresso então fizemos uma cotação para imprimi-lo e a Scortecci apresentou as melhores condições de qualidade e preço.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Acho que merece sim, por ser um trabalho alicerçado na pesquisa de um fato histórico pouco conhecido e de importância, principalmente para a região amazônica.
Ler é se formar. É conhecer e possibilitar a ampliação das possibilidades de escolher os rumos para nos situar na vida.

Obrigado pela sua participação.

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