Nasceu em 16 de setembro de 1985 em Macapá. É graduada em Letras/Francês pela UNIFAP, onde também é mestranda em Letras. Além de poeta, é professora na rede pública estadual. Com o blog Outros Carnavais manteve uma produção de poemas inéditos de 2008 a 2013. Em 2019, criou um novo espaço para as produções mais recentes o blog Viva Voz (https://umvivavoz.blogspot.com/). Participou de coletâneas literárias como Poesia.com e Poesia na Boca da Noite. Peixe-poema é seu livro de estreia.
Uma poética das marés
A superfície de uma escrita cuja história e presente são banhados com a água dos rios da Amazônia pode nos parecer doce e tranquila em um primeiro olhar, mas a verdade é que quando mergulhamos para além desse espelho d´água nos vemos diante de uma linguagem em conflito, à procura de uma poesia libertadora em múltiplos sentidos.
Em Peixe-poema, Aline Monteiro nos leva a um mergulho nas subjetividades de uma poesia e seu lugar, seus atravessamentos e ancestralidades, a procura do amor em sua potência e delicadezas.
Entrevista
Olá Aline. É um prazer contar a sua participação na Revista do Livro da Scortecci
Do que trata o seu Livro?Peixe-poema é sobre muitas coisas porque é sobre uma poética vinda das marés e seus atravessamentos, é metalinguagem que procura não uma definição mas uma reinvenção da língua através do passado e do presente de pessoas historicamente silenciadas, Peixe-poema é sobretudo uma desconstrução de estereótipos que nos transfiguram até os dias de hoje.Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?A ideia do livro nasceu a partir de um poema do escritor amapaense Pedro Stkls chamado “peixe-poema-peixe” que traz uma metáfora muito rica do poema enquanto o peixe que nos alimenta a alma e que ao mesmo tempo reflete nosso modo de existir no mundo, resgatando muitas memórias afetivas e vivências, e que finaliza dizendo “eis um poema-peixe no prato/eis uma poesia e o seu lugar” ... Esses versos me fizeram questionar qual seria o lugar de uma poesia que vem do norte, feita por pessoas quase invisíveis aos olhos do restante do país, mas que é ao mesmo tempo muito plural e potente... O que também me ajudou na construção do livro foi exatamente pensar em um público específico, queria que minha escrita dialogasse com o norte do país e suas subjetividades, por isso o livro traz histórias e personagens, mas o que não significa que outras pessoas de outras regiões não possam ler Peixe-poema, muito pelo contrário, que possam ler e ir além do superficial.Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?Sou professora de língua francesa na rede estadual, me graduei no curso de letras/francês pela UNIFAP, sou especialista em metodologia de ensino de língua e literatura estrangeira pela UEAP e atualmente mestranda em letras na linha de literatura, cultura e memória também pela UNIFAP. Comecei a escrever poesia ainda na infância, mas só comecei a publicar poemas no meu blog chamado Outros Carnavais em 2008, que ficou ativo até o ano de 2012, em 2019 criei um outro espaço para a publicação de poemas mais recentes, o blog Viva-voz, participei de algumas publicações de coletâneas de poemas (Como Poesia.com e Poesia na boca da noite) e também de movimentos de poesia ocorridos em Macapá como o Poesia na boca da noite e Poema de Quinta.A poesia é meu lar, então, penso meus projetos literários enquanto uma necessidade, como uma forma de estar no mundo e enxergá-lo, tem muita coisa que pretendo escrever e que não coube em Peixe-poema, ainda tenho muito o que dizer.O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?Penso que o escritor do Brasil está sujeito ao mercado como qualquer outro escritor em outros países, guardadas as suas especificidades e são justamente essas especificidades que fazem do Brasil ter esse estigma que a leitura não é valorizada, e isso ocorre em virtude do acesso bastante limitado para a maior parte da população, uma das nossas maiores escritoras contemporâneas que é a Conceição Evaristo não teve acesso a livros ou bibliotecas na sua infância não por falta de interesse mas porque estava fora do seu alcance. E como diz Octávio Paz a arte emana da linguagem social, independentemente dos entraves ela vai encontrar um jeito de acontecer.Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?Através de um amigo também escritor que publicou um livro de poesia na Scortecci.O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?Eu penso que ele precisa ser lido para causar provocações, questionamentos e até um certo incômodo, porque eu acredito que a poesia precisa disso, provocar diálogos com outras regiões do país, outras culturas outros pensamentos.Aos meus leitores, deixo o convite a conhecer através de Peixe-poema um pouco sobre a minha maneira de enxergar o lugar que eu vivo que é o Amapá e as suas relações com o resto do mundo.
Obrigado pela sua participação.
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