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28 novembro, 2021

Entrevista com Edgley Pereira de Paula - Autor de: Guerra na Imprensa ou Imprensa de Guerra?

É autor de vários artigos e livros sobre os temas “guerra” e “imprensa” e todas as nuances de assuntos que deles são revolvidos, como imaginários coletivos, iconografias, mass media e os usos e abusos da história e da memória social. Na linha de interesse do autor também estão presentes temáticas como patrimônio cultural, semiótica e historiografia, com especial atenção ao século XIX, no mundo Ibero-americano.
Em sua trajetória acadêmica possui Bacharelado e Licenciatura Plena em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Especialização em História Militar Brasileira pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Mestrado em História Política pelo PPGH/UERJ.
Foi professor do Colégio Militar de Brasília e trabalhou por mais de 11 anos na Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx), no Rio de Janeiro, onde atuava em pesquisa de História Militar e assessoramento em políticas públicas aplicadas ao patrimônio cultural de natureza militar, como fortes e fortalezas.
Atualmente faz doutoramento em História Contemporânea na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde investiga os reflexos das notícias da Guerra do Paraguai (1864-1870) na Imprensa portuguesa de época.

A Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai (1864 – 1870) foi a primeira na América do Sul a ter forte cobertura jornalística. Guerra de imensas proporções, jamais vista na Bacia do Prata até então, seja no envolvimento militar, através do recrutamento de grande contingente de pessoas, seja através de notícias de milhares de mortes decorrentes de combate e de doenças, de enormes dispêndios de recursos de toda monta, esse acontecimento marcou os diferentes processos de consolidação e afirmação dos projetos de Estado-Nação dos países que se envolveram no conflito. No Brasil, passado o ardor patriótico dos primeiros meses do conflito, houve tanto periódicos que apoiaram o governo como os que o atacavam, ligados a grupos de oposição, dependendo de qual partido estaria conduzindo os rumos da guerra e da rede de clientelismo e favorecimento que o jogo político ditava em lealdades fugazes que envolviam, além dos políticos (da Corte e das províncias), editores, redatores, chefes militares e correspondentes de guerra. Por seu caráter totalizante, a Guerra da tríplice Aliança também se desenvolveu em outros “teatros”, como na imprensa. Os jornais de época repercutiram em suas páginas não só as batalhas travadas como também todo sofrimento, toda contradição e todo entusiasmo nacionalista propagado nos países contendores. Nessa perspectiva, penso que as publicações ilustradas e os jornais que proliferaram depois do início da guerra (1864), divulgadas quase que diariamente na imprensa, causaram forte impacto em toda a sociedade brasileira e, por consequência, nos homens que estavam sendo arregimentados e enviados para lutarem nas campanhas militares na região platina. A guerra foi total! E, vai atingir a produção de periódicos que nesse período, aos poucos, se profissionalizava. Como se deu esse envolvimento? Como se produziram as informações que circulavam em todo o Império e na bacia do Prata? Quem as produziam? A que preço? É o que resolvemos contar...

ENTREVISTA

Olá Edgley. É um prazer contar com a sua participação na Revista do Livro da Scortecci

Do que trata o seu Livro?
O livro procura “lançar luzes” ao papel desempenhado pela imprensa brasileira durante essa grande guerra que durou mais de 5 anos e que envolveu o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Nesse sentido, procuro explicar como se dava a produção e circulação das notícias do conflito, assim, procurei mapear e expor as “redes de sociabilidades” existentes, à época, que servia de base nessa complexa relação que envolvia além dos donos de jornais, seus correspondentes de guerra, os articulistas (muitos importantes romancistas conhecidos, como o próprio Machado de Assis), além de militares, diplomatas e políticos.
As informações colhidas da frente de batalha eram publicadas nos jornais que seguindo a rede de comunicações da notícia que veio, voltava em sentido oposto, mostrando àqueles homens que guerreavam como estava sendo observada, em sua saudosa pátria, a guerra em que eles participavam. Ou seja, havia grande circulação de jornais inclusive no front! Os próprios soldados brasileiros tinham um impresso feito por eles chamado “A Saudade”...
Outra questão que levanto no livro é o papel desempenhado pelos correspondentes de guerra que foram recrutados para acompanhar a tropa. Logo, é mais um capítulo do grande esforço que o país realizou nesse contexto beligerante. O certo é que independentemente de orientações políticas ou de um suposto caráter oficioso, a proximidade com os combates e os esforços do dia a dia de uma guerra fez com que as abordagens desses homens e as matérias produzidas por eles conseguissem mostrar o drama vivido pelo soldado em campanha. Dessa maneira, creio que este livro traz algumas reflexões originais pois procurei observar a imprensa não só como fonte primária, mas também como objeto de pesquisa, ao articular a História da Guerra do Paraguai com a História da Imprensa.

Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
A ideia surgiu na perspectiva de dar publicidade a minha dissertação de mestrado realizada na UERJ há alguns anos atrás. Claro que para isso procurei dar uma fluidez melhor na narrativa a fim de atingir um público maior, para além de estudantes universitários de História e de Jornalismo.
 
Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Creio que o livro tem duas capacidades essenciais e que me chamam a atenção: a primeira é a noção da perenidade do documento, a segunda, que se articula com a primeira, é a capacidade de comunicar algo que o autor, pretensamente, acha digno de ser compartilhado, divulgado, enfim... Tornar público suas reflexões.
Atualmente, estou envolvido em outro projeto. Um manuscrito meu que trata de uma abordagem sobre a Independência do Brasil (que ano que vem faz 200 anos) acabou de ficar em segundo lugar num concurso promovido pela Editora da Biblioteca do Exército (BIBLIEx) – “Prêmio Pandiá Calógeras”, creio que ano que vem deva ser publicado em livro aproveitando as comemorações do acontecimento histórico.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Creio que tem o que melhorar, o que não deixa de ser uma oportunidade.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Pela Internet.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Acredito na visita ao passado como uma das mais importantes ferramentas para a reflexão do presente. Quando se procura julgar, qualificar (ou desqualificar, como é mais comum nesses nossos tempos de internet), para mim, explicita-se mais as próprias inquietações e convicções atuais do que as ideias, conceitos ou opiniões dos tempos memoráveis. Mas, a história, quanto ciência humana (com suas teorias e métodos ao alcance de todos, oxalá!) está aí, para quem quiser e tiver por gosto em operá-la. Essa é minha pretensão, enriquecer o debate.

Obrigado pela sua participação.

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