(São Luís – MA, 1988) é graduado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão. Componente da obra Acorde (Scortecci, 2011), com Igor-Pablo e Wesley Costa; pode ser lido em Macondo n. 6 (2012); Samizdat n. 39, e Substânsia n. 3 (2014), 7faces n. 11 (2015) e Philos n. 2 (2016). Autor de & (Scortecci, 2015).
É um mundo de esperança danificada, de gestos falhos, de sistemas e processos corrompidos de emoções a se compreender; alguém que se projeta em feridas e desvios a fim de identificar possíveis saídas. Aqui, a poesia de Sebastião Ribeiro conversa com a queda, a ânsia e o problema das expectativas de um meio já formatado a quem se vê como distante, diferente, outsider: um erro aos olhos alheios. Com um tom de desabafo e confissão, às vezes de deboche ou desesperança, ou ainda, compaixão e medo, Glitch é uma obra que dos inconformismos e das sanhas em cada um de nós — são palavras do deslocamento em busca de ouvidos acostumados a mudez.
Olá Sebastião. É um prazer contar novamente com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.
Do
que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que
se destina sua obra?
Glitch é o filtro, peneira, telhado ou escudo pelos quais me
relaciono com a dor e beleza de ser um erro;
da percepção de que sou parte quebrada, falha em um sistema de homens e coisas.
Alguém às voltas com sua fragilidade e emoção dominante, ciente de códigos
perdidos e as inevitáveis perdas e concessões que se faz na vida, em busca de
equilíbrio, ainda que em caos organizado.
Glitch não é necessariamente vindo de uma ideia, mas foi se
configurando ao passo que o escrevia... Algumas desventuras (base de quase tudo
que escrevo) em minha vida o fizeram tomar forma. Ele é muito ligado a seu
antecessor, mas o foco (se assim posso dizer) aqui é muito mais a percepção de
desconforto que o espírito diferente sofre, do que a percepção e expressão da
diferença em si.
Glitch é destinado a todos os outsiders possíveis... A todos que
se permitirem, que não escolham se alienar e que tenham a coragem de enfrentar
a inadequação e a dúvida da existência.
Fale de você e de seus projetos no
mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de
plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Fazia poesia na adolescência, religiosamente, todos os
dias, por cerca de 10 anos. Entretanto, somente em meus primeiros anos de meus
20 é que tomei as rédeas e ciência da real (?) dimensão do fazer poético: o
que, para que, como, onde e porquê. Venho sendo publicado em antologias,
revistas e blogs. No meu blog pessoal, o GAVETA,
GALÁXIA, me permito experimentações e notas mais livres. Dali, inclusive,
surgiram alguns poemas de Glitch. Em
2015, editei junto a Scortecci meu 1º livro (solo , pois em 2011, em companhia
dos amigos e poetas Igor Pablo Dutra e Wesley Costa, lancei a coletânea Acorde, com 15 textos de cada um),
chamado &.
Em relação ao sonho,
digo que fazer poesia, ter textos, verbalizar e organizar ideias, tudo isso,
não significa obrigatoriamente a iminente obra, editada e lançada. Muitos
mantêm para si seus escritos, outros querem ver seus livros de qualquer forma
nas partes... Sou da ideia de que o texto poético, acima de qualquer
denominação, é Arte, e Arte íntima. Penso o desejo de compartilhar pela
necessidade de conexão com os possíveis leitores, os outros glitches. Não vendo muito a questão do sonho.
Em tempo: clichês me dão ânsia; árvores, livros; filhos,
comiseração.
O que você acha da vida de escritor
em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Desafio. Resistência. Ato de coragem. Especialmente quando,
antes de ser escritor, há um artista desejoso de expressão, processador de
emoções, suas e alheias, como the late great Renato Russo, p. ex. Ainda que não
seja otimista que, a curto ou médio prazo, concretize-se uma mudança
consistentemente positiva no perfil leitor do país, busco fazer minha parte
como: 1. professor de escola pública, 2. produtor e promovedor de literatura e,
3. artista espantado, que se incomoda e questiona (como todo artista deveria
ser, mas...).
Como
você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Já trabalhei com a Scortecci outras vezes, como dito acima.
É uma editora de qualidade e respeito no meio, com quem tenho uma ótima
comunicação.
O
seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus
leitores?
Repito o que disse em outra
entrevista: todo livro merece ser lido. Por mais questionável sua qualidade ou
razão de ser. Entretanto, o que torna Glitch
peculiar, logo, penso eu, digno de leitura, é sua linguagem que não se limita a
parecer isto ou aquilo e, ao mesmo tempo, o assume; e o cerne e entorno de sua
motivação, a experiência expressa de quem se depara com instituições, sistemas,
pessoas e sentimentos como se fosse algo à parte, alguém que duvida, se afasta
(por dentro e por fora) para tentar entender o que passa. Sem falar também do
lado lúdico, digamos assim, de um oblíqua diversão
que há no fazer e ler poesia -- as imagens, sons e caminhos que nos
surpreendem, nos calam, nos fazem sorrir ou sentir estranhamentos.
Aos que se permitirem, desejo sorte e ternura, ao se
arriscar nesse Glitch.
Obrigado
pela sua participação.
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