01 março, 2017

Entrevista com Sebastião Ribeiro - Autor de: GLITCH

(São Luís – MA, 1988) é graduado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão. Componente da obra Acorde (Scortecci, 2011), com Igor-Pablo e Wesley Costa; pode ser lido em Macondo n. 6 (2012); Samizdat n. 39, e Substânsia n. 3 (2014), 7faces n. 11 (2015) e Philos n. 2 (2016). Autor de & (Scortecci, 2015). 




É um mundo de esperança danificada, de gestos falhos, de sistemas e processos corrompidos de emoções a se compreender; alguém que se projeta em feridas e desvios a fim de identificar possíveis saídas. Aqui, a poesia de Sebastião Ribeiro conversa com a queda, a ânsia e o problema das expectativas de um meio já formatado a quem se vê como distante, diferente, outsider: um erro aos olhos alheios. Com um tom de desabafo e confissão, às vezes de deboche ou desesperança, ou ainda, compaixão e medo, Glitch é uma obra que dos inconformismos e das sanhas em cada um de nós — são palavras do deslocamento em busca de ouvidos acostumados a mudez.

Olá Sebastião. É um prazer contar novamente com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.


Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Glitch é o filtro, peneira, telhado ou escudo pelos quais me relaciono com a dor e beleza de ser um erro; da percepção de que sou parte quebrada, falha em um sistema de homens e coisas. Alguém às voltas com sua fragilidade e emoção dominante, ciente de códigos perdidos e as inevitáveis perdas e concessões que se faz na vida, em busca de equilíbrio, ainda que em caos organizado.
Glitch não é necessariamente vindo de uma ideia, mas foi se configurando ao passo que o escrevia... Algumas desventuras (base de quase tudo que escrevo) em minha vida o fizeram tomar forma. Ele é muito ligado a seu antecessor, mas o foco (se assim posso dizer) aqui é muito mais a percepção de desconforto que o espírito diferente sofre, do que a percepção e expressão da diferença em si.
Glitch é destinado a todos os outsiders possíveis... A todos que se permitirem, que não escolham se alienar e que tenham a coragem de enfrentar a inadequação e a dúvida da existência.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Fazia poesia na adolescência, religiosamente, todos os dias, por cerca de 10 anos. Entretanto, somente em meus primeiros anos de meus 20 é que tomei as rédeas e ciência da real (?) dimensão do fazer poético: o que, para que, como, onde e porquê. Venho sendo publicado em antologias, revistas e blogs. No meu blog pessoal, o GAVETA, GALÁXIA, me permito experimentações e notas mais livres. Dali, inclusive, surgiram alguns poemas de Glitch. Em 2015, editei junto a Scortecci meu 1º livro (solo , pois em 2011, em companhia dos amigos e poetas Igor Pablo Dutra e Wesley Costa, lancei a coletânea Acorde, com 15 textos de cada um), chamado &.
Em relação ao sonho, digo que fazer poesia, ter textos, verbalizar e organizar ideias, tudo isso, não significa obrigatoriamente a iminente obra, editada e lançada. Muitos mantêm para si seus escritos, outros querem ver seus livros de qualquer forma nas partes... Sou da ideia de que o texto poético, acima de qualquer denominação, é Arte, e Arte íntima. Penso o desejo de compartilhar pela necessidade de conexão com os possíveis leitores, os outros glitches. Não vendo muito a questão do sonho.
Em tempo: clichês me dão ânsia; árvores, livros; filhos, comiseração.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Desafio. Resistência. Ato de coragem. Especialmente quando, antes de ser escritor, há um artista desejoso de expressão, processador de emoções, suas e alheias, como the late great Renato Russo, p. ex. Ainda que não seja otimista que, a curto ou médio prazo, concretize-se uma mudança consistentemente positiva no perfil leitor do país, busco fazer minha parte como: 1. professor de escola pública, 2. produtor e promovedor de literatura e, 3. artista espantado, que se incomoda e questiona (como todo artista deveria ser, mas...).

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Já trabalhei com a Scortecci outras vezes, como dito acima. É uma editora de qualidade e respeito no meio, com quem tenho uma ótima comunicação.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Repito o que disse em outra entrevista: todo livro merece ser lido. Por mais questionável sua qualidade ou razão de ser. Entretanto, o que torna Glitch peculiar, logo, penso eu, digno de leitura, é sua linguagem que não se limita a parecer isto ou aquilo e, ao mesmo tempo, o assume; e o cerne e entorno de sua motivação, a experiência expressa de quem se depara com instituições, sistemas, pessoas e sentimentos como se fosse algo à parte, alguém que duvida, se afasta (por dentro e por fora) para tentar entender o que passa. Sem falar também do lado lúdico, digamos assim, de um oblíqua diversão que há no fazer e ler poesia -- as imagens, sons e caminhos que nos surpreendem, nos calam, nos fazem sorrir ou sentir estranhamentos.
Aos que se permitirem, desejo sorte e ternura, ao se arriscar nesse Glitch.

Obrigado pela sua participação.

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