Um artista multimídia, timidez revelada em seu semblante sempre sereno, Marcos Quinan é um inquieto apaixonado pela arte brasileira. Autodidata, se define como um aprendiz que tem a necessidade de conhecer o Brasil em todas as suas expressões culturais e mostrá-las aonde puder.
Nascido em Ipameri-GO, não esconde o orgulho de ter escolhido a Amazônia como o chão propício para expandir sua inspiração que o faz aplaudido produtor, compositor, teatrólogo, artista plástico, fotógrafo, agitador cultural e escritor.
Teve, ainda, uma passagem pelo teatro, no despertar de sua vocação artística ainda jovem, lá mesmo em Goiânia onde fez parte da Agremiação Goiana de Teatro, participando ativamente da conclusão do Teatro Inacabado, na época o único teatro construído por um grupo amador no Brasil. Foi ator, iluminador, diretor e dramaturgo, fundando, com Paulo Roberto Vasconcelos nos anos 70, a Companhia de Teatro do Autor Brasileiro. Com Roseli Naves e Nilson Chaves, nos anos 80 a Gravadora e Editora Outros Brasis. Junto com Nilson Chaves, Walbert Monteiro, Conceição Elarrat e Fátima Silva em 2002 criou a ACAM – Associação Cultural da Amazônia e foi um dos coordenadores do primeiro Seminário Cultural da Amazônia realizado por ela no ano seguinte. Foi Secretário Executivo do Programa de Incentivo à Cultura do Estado do Pará - SEMEAR e Assessor da Presidência da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.
Em 2006 junto com o filho Marcelo Quinan criou a Lado de Dentro (http://ladodedentrobrasil.blogspot.com/), loja virtual dedicada à divulgação e comercialização da produção cultural brasileira, incluindo nossa cultura científica.
Marcos Quinan também assinou a coluna O Que Vem do Norte no site – www.festivaisdobrasil.com.br e hoje publica diariamente no blog ABARIBÓ http://abaribo.blogspot.com/ seu trabalho, material de artistas novos e obras consagradas da arte e cultura brasileira, além de participar, como jurado de festivais de música na região Amazônica e interagir com grupos de artistas em oficinas e palestras sobre os mais variados assuntos da cultura brasileira, da produção e dos aspectos práticos que a envolvem (Luiz Gonzaga, Canudos, Cabanagem, Direito Autoral, Leis de Incentivo Cultural).
Contudo, esse sertanista da vida, das idéias, dos sonhos conforme o define o jornalista Edyr Augusto Proença, só resolveu mostrar-se ao público ao atingir seu meio século de vida. Antes disso, associava sua atividade empresarial a eventos artísticos como agitador, produtor e divulgador, mas sem expor sua própria criação que hoje esta indelevelmente registrada em livros, pinturas, esculturas,fotografias, músicas e letras editadas em cd’s, uma bela produção da nossa brasilidade.
Enversado / Recorrências e meizinhas / desmisturadas e se misturando / ao que conduz a alma / jeito febril de ser na vida / Descrente dos óleos curativos da fé / e da luxúria do menos real / a paixão é solavanco / e o amor não é mansidão / Como lâminas o enversado / corta as carnes e o oco do mundo / côa o sangue do sentidor (...)
Poemas sobre o vaqueiro marajoara e sua lida cotidiana.
A rudeza dentro da harmonia que é sua vida e seu entorno.
Seus quereres, fazeres, jeito de falar e a convivência social, o respeito com a natureza e a sabedoria de seus menores modos.
No lugar Marajó Estribo vestindo dedos Rédea solta nas mãos Vez em sempre Os pés descalços Calçando o mundo No lugar que passado Não é longe No lugar Marajó Meu sertão Doutrina Onde índio se escondeu Quilombola já se escondeu Curiboca esconde agora
Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Jeito de Sentidor
De poesia retirada da minha vivência, da sensibilidade,
recordações, aspirações e do que é recorrente em nossas histórias como
meizinhas para a angústia. Escrevê-lo não foi uma ideia que surgiu, mas um
transbordamento, construído no tempo e na sensação de valor que a reflexão
poética pode provocar no leitor..
Vaqueiro Marajoara
Poesia.
Convidados: Nilson Chaves, Celso Viáfora, Joãozinho Gomes e
eu; estivemos no Marajó onde passamos uma semana, embrenhados nas fazendas das
margens do Paracauari na perspectiva de conhecer mais profundamente os valores
culturais do Marajó e traduzi-los idealizando algum trabalho coletivo ou mesmo
individual tendo como foco sua cultura.
Lá frequentamos a lida dos vaqueiros e as pajelanças,
ouvimos historias, chulas e ladainhas, recolhendo o que pudesse traduzir o
lugar e sua gente.
A ideia coletiva foi de um documentário cuja figura central
seria o vaqueiro que, em nossa observação, sintetiza toda a cultura marajoara –
seus modos e a solidão que paradoxalmente os une em vez de separá-los, o jeito
de lidar com a natureza, com o gado vacum e bufalino e com as águas e a
estiagem.
O documentário seria todo narrado pelo vaqueiro centenário
Preto Juvêncio (hoje falecido) e baseado em sua experiência de vida e de seus
companheiros de profissão. Escreveríamos o roteiro, as músicas incidentais e
canções baseadas nesta narrativa.
Lamentavelmente o projeto não vingou.
Do material recolhido as historias, modos, crenças,
pajelanças, doutrinas. A oralidade, vestimenta, sensualidade, amores, formas de
lidar com o trabalho, as encantarias, comidas, remédios naturais etc...
Transformei num feixe de poemas, sempre com o canto de uma doutrina (canto de
pajelança) recolhida e adaptada ou mesmo criada para funcionar como sabedorias.
Neles transpiram o vaqueiro marajoara e sua luta cotidiana.
A rudeza dentro da harmonia que é sua vida. Seus quereres, fazeres, jeito de
falar e a convivência social. O respeito com a natureza e a sabedoria de seus
menores modos.
Para quem quer conhecer esse lugar Marajó, um sertão...
Fale de você e de seus projetos no
mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de
plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Sou autodidata, nasci em Ipameri-GO e vivo na Amazônia
(Belém) faz mais de trinta e cinco anos. Além de poeta sou também escritor,
compositor, artista plástico, teatrólogo, fotógrafo, produtor e agitador
cultural com muitos trabalhos realizados nessas áreas. Na literária são oito
livros entre contos, romances, história e poesia, sempre tendo a brasilidade
como pano de fundo. Os próximos projetos com relação a literatura são:
continuar com o blog Abaribó - http://abaribo.blogspot.com.br/ onde posto diariamente alguns trabalhos, publicar
anualmente os livros já escritos e concluir o romance que no momento escrevo..
O que você acha da vida de escritor
em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Acho muito difícil e desestimulante. Além de a leitura ser
pouco valorizada no ambiente familiar e escolar, temos o problema da
distribuição que é inexistente e o descaso com as bibliotecas públicas..
Como
você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Em 2002 fizemos o Projeto Trocando Palavras que
possibilitou promover a doação do meu trabalho, na época seis livros, a todas
as bibliotecas públicas da Amazônia Legal totalizando 3.292 livros. A editora
cedia o lucro, o autor seu percentual, uma transportadora patrocinava o envio e
um banco os comprava para a doação. Infelizmente a editora fechou antes de
publicar o último livro contratado comigo e, par a cumprir as tratativas do
projeto Trocando Palavras, fizemos sua publicação por nossa conta e assim,
através da internet entramos em contato com a Scortecci onde encontramos o
custo benefício que precisávamos.
O
seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus
leitores?
Penso que sim, espero que minhas
angustias, inquietações e emoções possam levar o leitor a fazer reflexões sobre
as relações humanas e sobre si mesmo.
É ter jeito
É ter jeito
Sentir a procura
É ter cura
Se deixar embeber
Do que dentro está
E enversar
É feixe de sentimentos
Escrutados
Nas recorrências
Modo da emoção
Vadear silêncios
E todos os caminhos do ser
Sem pedir remissão
MQ.
Penso que sim, é um trabalho poético, mas principalmente de
pesquisa sobre a cultura da Ilha de Marajó.
Imaginário não está preso
Não tem traço que o diga
Entrelaçam é a história
Que vive em cada vida
MQ.
Obrigado
pela sua participação.
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