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27 fevereiro, 2015

Entrevista com Isabel Correia da Silva e Sousa - Autora de: ANARQUIA POÉTICA



Quem sou eu? (Um coração luso-brasileiro) Sou uma eterna sonhadora... descortino o sol em noites de luar, vejo o meu castelo de luz ruir, mas sempre tenho a esperança, de que nunca irá cair.

Nós somos produto do meio em que vivemos.
Do lugar em que se desenrola a nossa história.
Devaneios calculados...
Realidade que floresce através dos tempos.
Assim nasceu a “Anarquia Poética”.  Saudade rimada... 
Se eu nunca tivesse saído de Portugal meus escritos seriam diferentes.
Se a minha vida não fosse em São Paulo, não falaria do Rio Pinheiros e do Rio Tietê.
E, vou além... atravesso o Oceano,  falo do Tejo, daquele mar enorme que cheira à minha infância. As palavras são a expressão do pensamento.

Isabel C. S. Sousa

Obras
Ainda Sonho - (Poesia) / Lembranças Dispersas - (Contos) /  Trilhas Poéticas - (Poesia) / Colcha de Retalhos - (Narrativas) / O Menino Poeta - (Infantojuvenil) / Brincando com as Palavras - (Infantojuvenil).

Blog: http://www.dedodeprosaportuguesa.blogspot.com.br/

Anarquia Poética
É uma mistura de escritos poéticos, onde revela uma luta constante pela justiça, busca de perfeição, saudade, esperança! Retrato talvez de uma alma de imigrante que ama o lugar que lhe dá guarida; e, o que ficou para trás recorda também com amor e, com uma saudade saudável.







Olá Isabel. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Uma miscelânea de escritos poéticos, alguns desabafos e perguntas; em alguns deles a revelação de imigrante dividido entre duas pátrias.
A quem se destina? A todos em geral.
Nestas palavras do prefácio: "Ler Anarquia Poética é como encetar uma viagem navegando em claras águas". Acho que com esta simples frase revela mais ou menos seu conteúdo.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Este é o sétimo, porém, este tem algo de diferente, poemas momentâneos saídos em momentos diversos. A sensação de "O livro, a árvore, o filho"...... Resumo do que já escrevi um dia: "O filho cresceu... seguiu seu rumo.../ Um livro ele escreve / Que ninguém leu / sonhou uma vida que não viveu / Missão cumprida no fim da estrada / O livro, a árvore, o filho / O tudo era o nada!" Eu sou essa pessoa.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Acho triste, eu procuro incentivar a leitura, conto histórias com livro na mão. Como não podemos viver sem esperança, eu a coloco nas crianças, lhes explico a importância que tem a leitura no desenvolvimento mental.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Vi um anúncio de aulas ministradas por Ricardo Ramos, fui-me informar e acabei por conhecer a Editora e a Elianete. Fui também ao lançamento do livro infantil de Ricardo.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Eu acredito que merece ser lido sim. Acredito que tem algo que mexe com a sensibilidade, sem dramatização. Eu costumo dizer brincando: Leia a minha Anarquia e sorria.
Mensagem? Sim. A autora do prefácio no decorrer do mesmo, escreve esta frase:
"Quem seus versos lê, neles se reencontra e espelha". Acabei por acreditar nela.

Obrigado pela sua participação.

Termino a entrevista com um maravilhoso texto, onde Isabel conta um pouco sobre sua história.


São Paulo faz parte da minha história
                                                                   (Isabel Sousa)

Mandaqui
Quando cheguei à cidade de São Paulo, aluguei uma confortável casa no bairro do Mandaqui
Havia chovido, olhei as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d`água; quis chorar, cerrei as pálpebras, senti-me impotente, as lágrimas haviam secado...ficaria mais leve se chorasse,  estava frio.
Observei meu filho de um ano de idade – meu marido de semblante apreensivo... entrei em casa – abri as vidraças e assomei à janela.
A grandeza de São Paulo deu-me força.
Estávamos em 1964, imperava a ditadura militar, cujo regime me deixava um tanto assustada. No entanto, se dizia que São Paulo era a cidade que mais crescia no mundo.
Então pensei:
Tentarei crescer com ela.
Embalados no sonho da casa própria, eu e meu marido, começamos a percorrer ruas e vielas até encontrarmos em construção uns sobrados no Bairro do Brooklin Paulista que nos agradaram. Compramos um, amplo e confortável.
A rua era de terra, não havia esgoto nem água canalizada. Um poço no quintal abastecia a residência através duma barulhenta bomba hidráulica.

Dois ou três anos depois veio a água – esgoto – asfalto e todo o bem estar do progresso.
Nesse espaço de tempo precisávamos trabalhar.
Em Portugal eu concluíra um curso de “Corte, Costura e Bordados”. Pensei colocar em prática.
Com alguma propaganda de boca em boca tornei-me conhecida no Bairro. Coloquei uma placa na frente da casa:
“Modista – Professora de Bordados Corte e Alta Costura”.
Foi só o começo de uma fase, muitas alunas e muito trabalho.
Em seguida meu marido também arrumou emprego e os ânimos se aqueceram.
O tempo foi passando – a família aumentou – nasceu o segundo filho. Depois de passados aproximadamente nove anos nasceu uma menina.
Tudo parecia se completar. E, a primavera sorria.
Até que um dia meu marido partiu. Senti o chão fugir-me debaixo dos pés.
Olhei os três filhos à minha frente e São Paulo de braços abertos me desafiando.
Readquiri minhas forças. Decidi também mudar de profissão.
Como não havia escolas infantis no bairro, uma amiga me deu a ideia de montar uma em minha casa.
Conversei com várias mães – pais... que tinham filhos em idade pré-escolar e, foi unânime o apoio.
Alfabetizei muitas crianças do bairro e acabei ministrando também aulas, a fim de preparar os alunos do 4º ano primário ao extinto exame de admissão ao antigo Ginásio. 
Mais uma vez olhei esta cidade que não pode parar e notei que algumas escolas surgiam por perto, o progresso estava acelerado, não tendo eu como competir com essas escolas bem estruturadas, mais uma vez mudei o rumo de minha vida.
E, São Paulo me apontando as oportunidades.
Trabalhei por algum tempo no conhecido, mas também já extinto “Circulo do Livro”. 
Caminhei muito pelas ruas do Brooklin – Vila Olímpia – Itaim... visitando os sócios e pegando o pedido da compra de livros expostos nas respetivas Revistas mensais. Fazendo, claro posteriormente a entrega dos pedidos.
Havia algo de provinciano no ar, as pessoas eram afáveis e em cada rosto era comum um simpático sorriso.
Depois de algum tempo desliguei-me do “Circulo do Livro”. Foi-me então apresentada a oportunidade de trabalhar em um escola de Educação Infantil, onde exerci por vários anos o cargo de Educadora e Recriacionista. Sendo este o meu único trabalho com registro em carteira profissional.
Retornando ao inicio de minha narrativa:
Cruzando a minha rua espraiava-se preguiçosa e despretensiosa a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Um córrego a separava do outro lado do bairro, onde havia umas pontes improvisadas precisando duma certa habilidade e equilíbrio para atravessá-las.
Espalhavam-se ao redor algumas chácaras. O campo ao lado de minha casa era repleto de eucaliptos; no meu quintal, um caramanchão de madressilva exalava um perfume que combinava com as noites de luar e com o céu estrelado.
Os vizinhos se reunião após o jantar; enquanto isso as crianças brincavam na rua. Existia um não sei quê de parentesco entre todos.
Lembro-me da inauguração da Praça Gentil Falcão... Um helicóptero desceu com uma figura politica, não me lembro se era o governador ou o Prefeito. A Banda tocava, e tudo era festa, a Avenida se banhava no córrego e parecia sorrir.
Na esquina da Praça havia um matadouro, onde se ouvia o cacarejar das galinhas e, as coitadas eram mortas na frente do freguês. Vendiam-se ovos também. Hoje lá é o Banco Safra.
Crianças aos domingos empinavam pipas... e, quantas eu fiz para meus filhos! Outras andavam de bicicleta, algumas adoravam jogar pedrinhas no córrego.
Fecho os olhos – refugio-me nas doces lembranças – consigo até ver poesia ao recordar as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d´água no dia em cheguei à cidade de São Paulo.
Eis aqui um pequeno e antigo retrato desta cidade tão cheia de histórias, e junto, alguns fragmentos da minha própria história.
Hoje a Avenida Eng. Luís Carlos Berrini não conserva nem uma sombra da simplicidade de outrora; é quase imponente – arquitetura moderna – edifícios gigantes – hotéis – escritórios – movimento... É o progresso!





Um comentário:

  1. Isabel, parabéns pela nova obra, desejo-lhe muito sucesso. Gostei muito da entrevista e da história de um pedaço de São Paulo que conheci a poucos anos, pois vim para SP em 1993 e, com suas historias descobri muito mais desta cidade que escolhi viver. Um grande abraço e beijo. Lhe espero no Espaço Scortecci dia 28/3.

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