Quem sou eu? (Um coração luso-brasileiro) Sou uma eterna sonhadora... descortino o sol em noites de luar, vejo o meu castelo de luz ruir, mas sempre tenho a esperança, de que nunca irá cair.
Nós somos produto do meio em que vivemos.
Do lugar em que se desenrola a nossa história.
Devaneios calculados...
Realidade que floresce através dos tempos.
Assim nasceu a “Anarquia Poética”. Saudade rimada...
Se eu nunca tivesse saído de Portugal meus escritos seriam diferentes.
Se a minha vida não fosse em São Paulo, não falaria do Rio Pinheiros e do Rio Tietê.
E, vou além... atravesso o Oceano, falo do Tejo, daquele mar enorme que cheira à minha infância. As palavras são a expressão do pensamento.
Isabel C. S. Sousa
Devaneios calculados...
Realidade que floresce através dos tempos.
Assim nasceu a “Anarquia Poética”. Saudade rimada...
Se eu nunca tivesse saído de Portugal meus escritos seriam diferentes.
Se a minha vida não fosse em São Paulo, não falaria do Rio Pinheiros e do Rio Tietê.
E, vou além... atravesso o Oceano, falo do Tejo, daquele mar enorme que cheira à minha infância. As palavras são a expressão do pensamento.
Isabel C. S. Sousa
Obras
Ainda Sonho - (Poesia) / Lembranças Dispersas - (Contos) / Trilhas Poéticas - (Poesia) / Colcha de Retalhos - (Narrativas) / O Menino Poeta - (Infantojuvenil) / Brincando com as Palavras - (Infantojuvenil).
Blog: http://www.dedodeprosaportuguesa.blogspot.com.br/
É uma mistura de escritos poéticos, onde revela uma luta constante pela justiça, busca de perfeição, saudade, esperança! Retrato talvez de uma alma de imigrante que ama o lugar que lhe dá guarida; e, o que ficou para trás recorda também com amor e, com uma saudade saudável.
Olá Isabel. É um
prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da
Scortecci do Portal do Escritor.
Do
que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que
se destina sua obra?
Uma miscelânea de escritos poéticos, alguns desabafos e
perguntas; em alguns deles a revelação de imigrante dividido entre duas pátrias.
A quem se destina? A todos em geral.
Nestas palavras do prefácio: "Ler Anarquia Poética é
como encetar uma viagem navegando em claras águas". Acho que com esta
simples frase revela mais ou menos seu conteúdo.
Fale de você e de seus projetos no
mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de
plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Este é o sétimo, porém, este tem algo de diferente, poemas
momentâneos saídos em momentos diversos. A sensação de "O livro, a árvore,
o filho"...... Resumo do que já escrevi um dia: "O filho cresceu...
seguiu seu rumo.../ Um livro ele escreve / Que ninguém leu / sonhou uma vida
que não viveu / Missão cumprida no fim da estrada / O livro, a árvore, o filho /
O tudo era o nada!" Eu sou essa pessoa.
O que você acha da vida de escritor
em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Acho triste, eu procuro incentivar a leitura, conto
histórias com livro na mão. Como não podemos viver sem esperança, eu a coloco
nas crianças, lhes explico a importância que tem a leitura no desenvolvimento
mental.
Como você ficou
sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Vi um anúncio de aulas ministradas por Ricardo Ramos,
fui-me informar e acabei por conhecer a Editora e a Elianete. Fui também ao
lançamento do livro infantil de Ricardo.
O
seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus
leitores?
Eu acredito que merece ser lido sim. Acredito que tem algo
que mexe com a sensibilidade, sem dramatização. Eu costumo dizer brincando:
Leia a minha Anarquia e sorria.
Mensagem? Sim. A autora do prefácio no decorrer do mesmo,
escreve esta frase:
"Quem seus versos lê, neles se reencontra e
espelha". Acabei por acreditar nela.
Obrigado
pela sua participação.
Termino a entrevista com um maravilhoso texto, onde Isabel conta um pouco sobre sua história.
Termino a entrevista com um maravilhoso texto, onde Isabel conta um pouco sobre sua história.
São Paulo faz parte da minha história
(Isabel Sousa)
Mandaqui
Quando
cheguei à cidade de São Paulo, aluguei uma confortável casa no bairro do
Mandaqui
Havia
chovido, olhei as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d`água; quis
chorar, cerrei as pálpebras, senti-me impotente, as lágrimas haviam
secado...ficaria mais leve se chorasse,
estava frio.
Observei
meu filho de um ano de idade – meu marido de semblante apreensivo... entrei em
casa – abri as vidraças e assomei à janela.
A
grandeza de São Paulo deu-me força.
Estávamos
em 1964, imperava a ditadura militar, cujo regime me deixava um tanto
assustada. No entanto, se dizia que São Paulo era a cidade que mais crescia no
mundo.
Então
pensei:
Tentarei
crescer com ela.
Embalados
no sonho da casa própria, eu e meu marido, começamos a percorrer ruas e vielas
até encontrarmos em construção uns sobrados no Bairro do Brooklin Paulista que
nos agradaram. Compramos um, amplo e confortável.
A
rua era de terra, não havia esgoto nem água canalizada. Um poço no quintal
abastecia a residência através duma barulhenta bomba hidráulica.
Dois
ou três anos depois veio a água – esgoto – asfalto e todo o bem estar do
progresso.
Nesse
espaço de tempo precisávamos trabalhar.
Em
Portugal eu concluíra um curso de “Corte, Costura e Bordados”. Pensei colocar
em prática.
Com
alguma propaganda de boca em boca tornei-me conhecida no Bairro. Coloquei uma
placa na frente da casa:
“Modista
– Professora de Bordados Corte e Alta Costura”.
Foi
só o começo de uma fase, muitas alunas e muito trabalho.
Em
seguida meu marido também arrumou emprego e os ânimos se aqueceram.
O
tempo foi passando – a família aumentou – nasceu o segundo filho. Depois de
passados aproximadamente nove anos nasceu uma menina.
Tudo
parecia se completar. E, a primavera sorria.
Até
que um dia meu marido partiu. Senti o chão fugir-me debaixo dos pés.
Olhei
os três filhos à minha frente e São Paulo de braços abertos me desafiando.
Readquiri
minhas forças. Decidi também mudar de profissão.
Como
não havia escolas infantis no bairro, uma amiga me deu a ideia de montar uma em
minha casa.
Conversei
com várias mães – pais... que tinham filhos em idade pré-escolar e, foi unânime
o apoio.
Alfabetizei
muitas crianças do bairro e acabei ministrando também aulas, a fim de preparar os
alunos do 4º ano primário ao extinto exame de admissão ao antigo Ginásio.
Mais
uma vez olhei esta cidade que não pode parar e notei que algumas escolas
surgiam por perto, o progresso estava acelerado, não tendo eu como competir com
essas escolas bem estruturadas, mais uma vez mudei o rumo de minha vida.
E,
São Paulo me apontando as oportunidades.
Trabalhei
por algum tempo no conhecido, mas também já extinto “Circulo do Livro”.
Caminhei
muito pelas ruas do Brooklin – Vila Olímpia – Itaim... visitando os sócios e
pegando o pedido da compra de livros expostos nas respetivas Revistas mensais.
Fazendo, claro posteriormente a entrega dos pedidos.
Havia
algo de provinciano no ar, as pessoas eram afáveis e em cada rosto era comum um
simpático sorriso.
Depois
de algum tempo desliguei-me do “Circulo do Livro”. Foi-me então apresentada a
oportunidade de trabalhar em um escola de Educação Infantil, onde exerci por
vários anos o cargo de Educadora e Recriacionista. Sendo este o meu único
trabalho com registro em carteira profissional.
Retornando
ao inicio de minha narrativa:
Cruzando
a minha rua espraiava-se preguiçosa e despretensiosa a Avenida Engenheiro Luís
Carlos Berrini. Um córrego a separava do outro lado do bairro, onde havia umas
pontes improvisadas precisando duma certa habilidade e equilíbrio para
atravessá-las.
Espalhavam-se
ao redor algumas chácaras. O campo ao lado de minha casa era repleto de
eucaliptos; no meu quintal, um caramanchão de madressilva exalava um perfume
que combinava com as noites de luar e com o céu estrelado.
Os
vizinhos se reunião após o jantar; enquanto isso as crianças brincavam na rua.
Existia um não sei quê de parentesco entre todos.
Lembro-me
da inauguração da Praça Gentil Falcão... Um helicóptero desceu com uma figura
politica, não me lembro se era o governador ou o Prefeito. A Banda tocava, e
tudo era festa, a Avenida se banhava no córrego e parecia sorrir.
Na
esquina da Praça havia um matadouro, onde se ouvia o cacarejar das galinhas e,
as coitadas eram mortas na frente do freguês. Vendiam-se ovos também. Hoje lá é
o Banco Safra.
Crianças
aos domingos empinavam pipas... e, quantas eu fiz para meus filhos! Outras andavam
de bicicleta, algumas adoravam jogar pedrinhas no córrego.
Fecho
os olhos – refugio-me nas doces lembranças – consigo até ver poesia ao recordar
as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d´água no dia em cheguei à
cidade de São Paulo.
Eis
aqui um pequeno e antigo retrato desta cidade tão cheia de histórias, e junto,
alguns fragmentos da minha própria história.
Hoje
a Avenida Eng. Luís Carlos Berrini não conserva nem uma sombra da simplicidade
de outrora; é quase imponente – arquitetura moderna – edifícios gigantes –
hotéis – escritórios – movimento... É o progresso!
Isabel, parabéns pela nova obra, desejo-lhe muito sucesso. Gostei muito da entrevista e da história de um pedaço de São Paulo que conheci a poucos anos, pois vim para SP em 1993 e, com suas historias descobri muito mais desta cidade que escolhi viver. Um grande abraço e beijo. Lhe espero no Espaço Scortecci dia 28/3.
ResponderExcluir