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25 novembro, 2014

Entrevista com Igor Buys - Autor de: VERSOS ÍNCUBOS

Carioca, nasceu em 1968, cursou o bacharelado em Filosofia na UERJ e o bacharelado em Ciência Jurídicas na Faculdade Brasileira. Em 1997, foi empossado servidor da Justiça Federal de Primeira Instância da Segunda Região. Em 1999, lança o seu primeiro livro de poesias, com textos de juventude, escritos, sobretudo, entre os dezoito e os vinte e cinco anos, e titulado Manelo de Áscuas, obra em que predominam os acrósticos ideográficos e demais influências concretistas. Aos trinta e sete anos, sofre um acidente e passa ao quadro de servidores inativos da Justiça Federal. Nos últimos anos, com tempo livre para pensar, volta a escrever poesias e ensaios, mantendo blogues de repercussão importante em determinados círculos.


Qual a relação do mito Eros e Psique com a sua obra?
O mito de Psiquê, que tem de realizar diversos trabalhos hercúleos para que Afrodite, mãe de Eros, permita o seu amor com o deus, simboliza a evolução da própria alma em busca de conhecer-se a si mesma. É um mito sobre a construção da individualidade, portanto. A palavra Eros, em grego, significa o alado, aquele que voa. Que se arroja em direção... ao futuro, podemos dizer. O amor rompe a imobilidade e produz o tempo, buscando, hoje, agora, algo que ainda não é. Esse seu movimento, esse seu voo é o Sonho: o poder de projetar-se ao futuro desejado. O desejo, então, é o princípio do futuro, e do tempo. O desejo que está contido no amor. E o Sonho são suas asas. Versos Íncubos é sobre o poder de voo, de Sonho da palavra amorosa. (Entrevista à Vitrine Cultural)
O poeta e artista plástico inglês William Blake (1757 – 1827) tem o seu estilo, muito peculiar, definido como — arte fantástica. Diria que os textos predominantes na obra em questão merecem ser chamados também, como os de Blake, de poesia fantástica. São poesias de tema amoroso que têm como tônica a tentativa do eu-lírico de sugestionar a bem-amada a perceber a sua presença sensorialmente através dos versos e, assim, envolvê-la.
Entanto, o livro não se resume à poesia fantástica. Há, em seqüência a esta, uma forma de versejar exacerbadamente sensual e, por vezes, apaixonada, incandescente. A temática amorosa na obra nem sempre passa pelo fantástico ou pelo sensual; temos o amor tratado de modo mais psicológico e singelo, com o flagrante dos conflitos internos e momentos de solidão que envolve. Finalmente, o livro inclui poesias de temáticas outras, além da amorosa: há textos de conteúdo político e, outrossim, de reflexão filosófica em sentido estrito, além daqueles que fazem a crônica e a antropologia livre da cidade do Rio de Janeiro.
Os versos livres não são a única forma que a poesia de tema amoroso ganha na obra. Há sonetos alexandrinos em meio a poesias quase concretistas, caracterizando a miscelânea mais ou menos constante nos que aderem ao pós-modernismo. Bom exemplo é o soneto seguinte, escrito para uma certa Daniela, cujo nome ecoa nos versos, em dois momentos:

Oceano arquejando, indo e vindo no acúbito, 
Areia a ronronar, arranhando em decúbito; 
Beijo boca salgada, dois seios de orvalho, 
Dedos meus numa púbis de água e cascalho. 

A terra e o mar de fuga, o eterno e o súbito, 
Dois titãs se procuram, imenso concúbito, 
Como nós, nos amando, em meio ao crisalho, 
Vai-e-vem solitário, solidário malho. 

Amo a noite e a mulher, ela a mim e a Urano, 
Afogada entre estrelas, grávida de arcano. 
Dá-me ela o olhar onde a lua se espelha: 

– Não me abandone ela! peço a tal centelha. 
E a espuma e a marola transfogem de mim 
Quando a invadem odisséias, naufrágio e anequim... 
(I.B.; Não Me Abandone Ela)

Poesia ou magia? Obscuridade ou paixão? Palavras capazes de invadir a casa, o quarto, a vida de uma mulher e alterar a química do seu corpo: materializarem-se, tocá-la.

O poeta e artista plástico inglês William Blake (1757 – 1827) tem o seu estilo, muito peculiar, definido como – arte fantástica. Os textos predominantes nesta obra, bem assim, merecem ser chamados, como os de Blake, de poesia fantástica. São poesias de tema amoroso que têm como tônica a tentativa do eu-lírico de sugestionar a bem-amada a perceber a sua presença sensorialmente através dos versos e, assim, envolvê-la:

Vem dar no meu verso, vem. 
Meu verso está suspenso 
onde podes achá-lo, é certo. 

Meu verso está na tua casa, 
senta-se à mesa. 
Espia por trás da cortina 
e vê quando passas, na madrugada
íntima, com olhos vampiros. 

Meu verso é um intruso discreto, 
é filho da noite, e te ronda. 
Coa estaca entre as mãos, curiosa, 
vais relê-lo, conferi-lo, 
sorver seu feitiço, meigo e liquórico.

[...]

Entanto, o livro não se resume à poesia fantástica. Há, em sequência a esta, uma forma de versejar exacerbadamente sensual e, por vezes, apaixonada, incandescente. Temos na obra, ainda, o amor tratado de modo mais psicológico e singelo, com o flagrante dos conflitos internos  e momentos de solidão que envolve. O livro inclui, ademais, poesias de temáticas outras, além da amorosa. Há textos de conteúdo político e, outrossim, de reflexão filosófica em sentido estrito.


Olá Igor. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
“Versos Íncubos” é uma obra peculiar na minha trajetória como escritor. Nela predomina o processo que fui me acostumando a chamar de Processo das Musas. É, então, um livro que contém muitas poesias de temática amorosa, as quais falam de amor carnal, e não sublimado, e contém, ainda, alguma poesia gótica erótica a que chamei -- poesia fantástica, em referência a William Blake, inclusive. Entanto o livro não se resume ao Processo das Musas, com essas nuanças, e contém, sem falsa modéstia, algumas obras primas. Acho que, no conjunto da minha obra, “Versos Íncubos” terá o seu lugar especial e ainda há de repercutir bastante.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
“Versos Íncubos” é o meu segundo livro de poesias. No primeiro, “Manelo de Áscuas”, — Sete Letras, 1999 — predomina uma poesia visual marcada por uma forma que criei na juventude: o acróstico ideográfico. O próximo livro já está em urdidura e parte de processos bem distintos dos empregados em “Versos Íncubos”. Tenho trabalhado com três heterônimos; o que está mais adiantado escreve poesias dramáticas — para serem encenadas ou lidas em voz alta — de caráter reflexivo, que deixam esboçada toda uma via sistêmica de compreensão da totalidade e da vida. A linguagem é adulta, marcada pelo eruditismo, pela irreverência e impactante.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Eu acho que o Brasil, com as políticas de progresso com inclusão social que vem adotando, nos últimos anos, caminha a passos largos para se tornar uma — Suécia de dimensões continentais: algo nunca antes vislumbrado, quiçá, sequer sonhado. Digo isso e repito, há vários anos. E, dentro desse contexto, não pode haver melhor parceria para o autor brasileiro que o poder público. Acredito muito num regime de parcerias entre iniciativa privada e poder público, em que alguém, para abrir uma padaria ou publicar um livro poderá contar com o Estado como parceiro, — se desejar. Senão, poderá também concorrer com quem seja parceiro do Brasil nos moldes do livre concorrência. O espaço é curto para aprofundar a discussão, mas vejo sinais do assomar de uma espécie de — neomutualismo a conviver com o capitalismo. E esse é o caminho.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Cheguei até a Scortecci através de uma agente literária. E, a despeito de algumas dificuldades, digamos, logísticas envolvidas no fato de publicar em São Paulo, morando no Rio de Janeiro, estou bastante satisfeito com a parceria e com a possibilidade de ter participado da Bienal de São Paulo e manter essa ponte com os leitores paulistas.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
O meu livro merece sobreviver a mim. I.e., ser lido muito depois do meu desaparecimento. As pessoas têm um fetiche por poetas mortos. Bem assim, por pensadores mortos. É fácil, hoje, amar um Augusto dos Anjos; um homem que escrevia: “escarra [primeiro] nessa boca que te beija”. Morto ele está... Apaziguado. Mas tê-lo ao seu lado, num sarau de poesias, por exemplo, dizendo coisas tais..., ora, envolveria outro tipo de experiência e relação com a arte. Eu não pretendo cortar a minha orelha, como Van Gogh, nem precisarei ser enterrado numa vala comum, como Mozart: tenho a vida ganha, sou um homem desmesuradamente forte, ao contrário destes, e de muitos recursos. Entanto escrevo para o futuro. E aceito, sem problemas, que a cultura precisará de tempo para assimilar o que faço e farei, nos próximos anos.

Obrigado pela sua participação.

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